CNJ decide pela necessidade de Escritura Pública para a Alienação Fiduciária em garantia de imóvel, salvo para o financiamento habitacional

O Conselho Nacional de Justiça (“CNJ”), em 08 de agosto de 2023, julgou improcedente o Procedimento de Controle Administrativo, pelo qual havia sido requerida a suspensão do trecho do Provimento nº 345/2017, do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (“TJMG”), e a expedição de ato normativo aos Tribunais de Justiça estaduais no sentido de não limitar o uso do instrumento particular às entidades integrantes do Sistema Financeiro Imobiliário (“SFI”) e às Cooperativas de Crédito, para celebração dos contratos de alienação fiduciária em garantia de bem imóvel.

A decisão do CNJ aplicou o artigo 108, do Código Civil, em detrimento da Lei nº 9.514/97, que prevê que a "escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário-mínimo vigente no País".

Além disso, o Relator fundamentou sua decisão, principalmente, em três fatos: 

(i) a jurisprudência consolidada do TJMG entende, desde 2013 (Provimento 260/2013), que "os atos e contratos relativos à alienação fiduciária de bens imóveis e negócios conexos poderão ser celebrados por escritura pública ou instrumento particular, desde que, neste último caso, seja celebrado por entidade integrante do Sistema de Financiamento Imobiliário" (art. 852, do mencionado Provimento); 

(ii) o Sistema Financeiro da Habitação ("SFH") possui regramento próprio e análogo, dispondo que "os contratos de que forem parte o Banco Nacional de Habitação ou entidades que integrem o  Sistema Financeiro da Habitação, bem como as operações efetuadas por determinação da presente Lei, poderão ser celebrados por instrumento particular, os quais poderão ser impressos, não se aplicando aos mesmos as disposições do art. 134, II, do Código Civil, atribuindo-se o caráter de escritura pública, para todos os fins de direito, aos contratos particulares firmados pelas entidades acima citados até a data da publicação desta Lei", ou seja, considera-se necessária a intervenção de entidade integrante do SFH, em analogia ao Sistema Financeiro Imobiliário (SFI); e 

(iii) a jurisprudência do TJMG está em sintonia com a posição de outros Tribunais de Justiça, como aqueles dos Estados da Bahia, do Pará, do Pernambuco e do Maranhão.

A nova decisão do CNJ revive antiga polêmica e traz incertezas ao mercado imobiliário, considerando que o assunto parecia estar pacificado, na maioria dos Estados, em sentido contrário, com base na redação atual do artigo 38 da Lei Federal nº 9.514/97, alterada pela Lei Federal nº 11.076/04, que disciplina a alienação fiduciária em garantia de bens imóveis, estabelecendo que: "os atos e contratos referidos nesta Lei ou resultantes de sua aplicação, mesmo aqueles que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis, poderão ser celebrados por escritura pública ou por instrumento particular com efeitos de escritura pública."

Este boletim apresenta um resumo de alterações legislativas ou decisões judiciais e administrativas no Brasil. Destina-se aos clientes e integrantes do Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados. Este boletim não tem por objetivo prover aconselhamento legal sobre as matérias aqui tratadas e não deve ser interpretado como tal.

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